Diuréticos, o Sal e o Culturista
Os
riscos e benefícios do uso de diuréticos na prática
da musculação
Os diuréticos são medicamentos que aumentam a eliminação
de água, efeito muito útil para o tratamento da hipertensão
arterial e da insuficiência cardíaca. As drogas mais
freqüentemente utilizadas agem promovendo a excreção
renal de sódio (sal), e o aumento da concentraçãode
sal na urina puxa a água para fora do corpo. A definição
muscular pode ser prejudicada por uma maior quantidade de água
no tecido sub-cutâneo,
razão pela qual muitos culturistas tentam eliminar essa água
utilizando diuréticos próximo
das competições. Outra razão para utilização
de diuréticos por atletas em geral é a tentativa de
abaixar rapidamente o peso corporal para atender a faixa de peso de
uma determinada categoria de competição.
Apesar desses efeitos úteis para o atleta, o uso de diuréticos
tem alguns inconvenientes e riscos.
No caso da definição muscular, embora esta qualidade
possa realmente melhorar, ocorre um efeito indesejável importante:
a diminuição do volume dos músculos, que depende
em mais de 70 % da água, também eliminada pelos diuréticos.
Outros inconvenientes são a redução do desempenho
atlético devido à perda de sais minerais e água,
a tendência para as cãimbras, queda da pressão
arterial, tonturas e desmaio. Dosagens excessivas aumentam a
possibilidade de efeitos colaterais e começa a haver risco
de complicações mais sérias como as arritmias
e a parada cardíaca, por desidratação e queda
do potássio do sangue, outro efeito de muitos diuréticos.
Os diuréticos estão implicados em muitos casos de morte
súbita em atletas. Esse risco aumenta ainda mais quando ocorre
restrição de água, uso de comprimidos de potássio
e de drogas como o clembuterol, que aumentam a concentração
de potássio nas células. Atletas costumam utilizar potássio
para contrabalançar a perda desse sal promovida pelos diuréticos,
mas o aumento do potássio nas células do coração
é outro mecanismo de parada cardíaca.
Na tentativa de controlar a quantidade de água no corpo, muitos
profissionais de musculação utilizam manipulações
dietéticas do sal e da água, freqüentemente com
resultados desastrosos para seus objetivos. Devido à que grandes
quantidades de sal na alimentação promovem um
aumento da retenção de água, muitos atletas eliminam
totalmente o sal e restringem a ingestão de água. O
problema é que este procedimento também leva à
retenção de água.
Para entendermos melhor esses mecanismos é necessário
estudar como o organismo controla a quantidade de água do corpo.
Quando a ingestão de sódio aumenta ou abaixa, e quando
a ingestão de água diminui, ocorre a liberação
de dois hormônios: a aldosterona pela glândula supra-renal
e o ADH (hormônio anti-diurético em inglês) pela
glândula hipófise. A ingestão de grandes quantidades
de água não altera a produção desses hormônios,
apenas aumentando a eliminação de urina diluída
pelos rins. A aldosterona age retendo sódio nos rins e conseqüentemente
aumentando a água do corpo. O ADH age aumentando diretamente
a absorção de água nos rins. O mecanismo de controle
da água do corpo é muito sensível e eficiente,
o que se compreende pela importância da boa hidratação
do organismo para a manutenção da vida. A melhor conduta
para evitar a retenção de água e garantir a hidratação
muscular é ingerir sal e água em
quantidades normais em todas as fases do treinamento. A única
modificação que parece ser útil é diminuir
um pouco a quantidade de sal nos últimos dois ou três
dias da preparação para campeonatos de musculação.
Outras razões existem para que nunca se elimine totalmente
o sal da alimentação. O transporte de aminoácidos
e de glicose para dentro das células depende de adequada concentração
de sódio no organismo. Assim sendo, a síntese de proteínas
e de glicogênio podem ser prejudicadas pela restrição
de sódio. Esses efeitos podem prejudicar a hipertrofia a longo
prazo, e no caso da preparação para campeonatos, podem
significar a diferença entre a vitória ou a derrota.
Na ausência de sal não é possível conseguir
a saturação de glicogênio e água tão
necessária para inflar os músculos no dia do campeonato.
Por esta razão é comum que atletas em dietas inadequadas
apresentem-se melhor alguns dias depois dos campeonatos, quando voltam
a comer normalmente. Os maiores erros de alimentação
dos culturistas em preparação para campeonatos são
a redução excessiva dos carboidratos e da água,
e a eliminação do sal. Erro adicional é a utilização
de diuréticos e outras drogas. Todos esses fatores afastam
o atleta do seu objetivo e ainda colocam em risco sua saúde.
Fonte: Dr. José Maria Santarém Sobrinho