Os
benefícios da Auto-hemoterapia
Dr.
Luiz Moura
Prof. Dr. José de Felippe Junior
Dra Berenice Wilke
Definição
É um recurso terapêutico de baixo custo, simples que
se resume em retirar sangue de uma veia e aplicar no músculo,
estimulando assim o Sistema Retículo-Endotelial, quadruplicando
os macrófagos em todo organismo.
Luiz Moura
Sumário
A
técnica é simples:
retira-se o sangue de uma veia comumente da prega do cotovelo e aplica-se
no músculo, braço ou nádega, sem nada acrescentar
ao sangue. O volume retirado varia de 5ml à 20ml, dependendo
da gravidade da doença a ser tratada. O sangue, tecido orgânico,
em contato com o músculo, tecido extra-vascular, desencadeia
uma reação de rejeição do mesmo, estimulando
assim o S.R.E. A medula óssea produz mais monócitos
que vão colonizar os tecidos orgânicos e recebem então
a denominação de macrófagos. Antes da aplicação
do sangue, em média a contagem dos macrófagos gira em
torno de 5%. Após a aplicação a taxa sobe e ao
fim de 8h chega a 22%. Durante 5 dias permanece entre 20 e 22% para
voltar aos 5% ao fim de 7 dias a partir a aplicação
da auto-hemoterapia. A volta aos 5% ocorre quando não há
sangue no músculo.
As doenças infecciosas, alérgicas, auto-imunes, os corpos
estranhos como os cistos ovarianos, miomas, as obstruções
de vasos sangüíneos são combatidas pelos macrófagos,
que quadruplicados conseguem assim vencer estes estados patológicos
ou pelo menos, abrandá-los. No caso particular das doenças
auto-imunes a autoagressão decorrente da perversão do
Sistema Imunológico é desviada para o sangue aplicado
no músculo, melhorando assim o paciente.
Histórico
Em
1911, F. Ravaut registra: modo de tratamento auto (uno mismo, haima
- sangra) empregado em diversas enfermidades infecciosas, em particular
na febre tifóide e em diversas dermatoses. Ravaut usa a auto-hemoterapia
em certos casos de asma, urticária e estados anafiláticos
(dicionário enciclopédico de medicina, T.1 de L. Braier).
Em 1941 o Dr. Leopoldo Cea, no Dicionário de Términos
Y Expressiones Hematológica, pg 37, cita: auto-hemoterapia,
método de tratamento que consiste em injetar a um indivíduo
cierta cantidad de sangre total (suero Y glóbules) tomada de
este mismo indivíduo.
H. DOUSSET - AUTO-HEMOTERAPIA - Técnicas indispensáveis.
É útil em certos casos para dessensibilizações
- 1941.
Stedman - Dicionário Médico - 25ª edição
- 1976 - pág 129 - Auto-hemotherapy - auto-hemoterapia - tratamento
da doença pela retirada e reinjeção do sangue
do próprio paciente.
1977 - Index Clínico - Alain Blacove Belair - auto-hemoterapia
- terapêutica de dessensibilização não
específica.
Entretanto foi o professor Jesse Teixeira que provou que o S.R.E era
ativado pela auto-hemoterapia em seu trabalho publicado e premiado
em 1940 na Revista Brasil - Cirúrgico, no mês de Março.
Jesse Teixeira provocou a formação de uma bolha na coxa
de pacientes, com cantárida, substancia irritante. Fez a contagem
dos macrófagos antes da auto-hemoterapia, a cifra foi de 5%.
Após a auto-hemoterapia a cifra subiu a partir da 1ª hora
chegando após 8 horas a 22%. Manteve-se em 22% durante 5 dias
e finalmente declinou para 5% no 7º dia após a aplicação.
Ação Terapêutica
Entre 1943 e 1947, quando cursava a Faculdade Nacional de Medicina
apliquei a auto-hemoterapia cumprindo ordem de meu pai, Professor
Pedro Moura, nos pacientes que ele operava na Casa de Saúde
S. José no Rio de Janeiro. A primeira aplicação
era feita na residência do paciente e a 2ª, 5 dias depois
na Casa de Saúde no quarto do paciente e era sempre de 10ml.
A
finalidade da aplicação era evitar infecção
ou outra complicação infecciosa pulmonar, já
que a anestesia na época era em geral com éter que irritava
bastante os pulmões. O cirurgião geral, Dr. Pedro Moura
adotou este método face ao sucesso do Professor Jesse Teixeira
que registrou em 150 cirurgias as mais variadas, 0% de complicações
infecciosas post-operatórias em 1940.
Depois de formado continuei a aplicar a auto-hemoterapia apenas em
casos de acne juvenil e algumas dermatoses de fundo alérgico.
Entretanto, devo ao Dr. Floramante Garófalo, em 1976, quando
este tinha então 71 anos, o conhecimento que resultou em mais
abrangência da ação terapêutica da auto-hemoterapia.
Em março de 1976 o Dr. Garófalo queixou-se de fortes
câimbras em sua perna direita quando caminhava mais de 100 metros.
Sugeri ao colega que procurasse o angiologista, Dr. Antonio Vieira
de Melo. Este decidiu fazer arteriografia da femural direita sendo
constatada obstrução de cerca de 10cm ao nível
do terço médio da coxa direita. O angiologista disse
ao Dr. Garófalo que resolveria o problema com uma prótese
que substituiria o segmento da artéria femural obstruída.
O Dr. Garófalo disse ao angiologista que "não quero
me tornar um homem biônico, amanhã terei outra artéria
obstruída e terei que colocar novas próteses".
Vou resolver o problema com a auto-hemoterapia.
Eu então me ofereci para fazer as aplicações.
Durante 4 meses, de 7 em 7 dias aplicava 10ml de sangue no Dr. Garófalo
que então decidiu se submeter à nova arteriografia de
femural direita, já que podia caminhar normalmente, porém
o Dr. Antonio Vieira de Melo acreditava que era impossível
que a artéria estivesse livre da obstrução atribuindo
a melhora à sugestão. Repetida a arteriografia, não
havia mais nenhuma obstrução na femural direita. Foi
então que o Dr. Garófalo me presenteou com os trabalhos
de Jesse Teixeira, de 1940 e de Ricardo Veronesi, de 1976. O estímulo
do S.R.E comprovado por Jesse Teixeira e as ações deste
bem explicados no trabalho de Ricardo Veronesi explicavam a desobstrução
da artéria femural de Garófalo e abriam um enorme campo
no tratamento das doenças auto-imunes.
Em setembro de 1976 internou-se na Clínica Médica do
Hospital Cardoso Fontes uma paciente cujo diagnóstico foi esclarecido
pela consultora dermatológica da Clínica, Dra. Ryssia
Alvares Florião. Feitas as biópsias nas mamas, abdômen
e coxa de A.S.O. (F) - 52 anos, encaminhadas estas à patologista
do Hospital, Dra. Glória de Morais Patello, o diagnóstico
foi: esclerodermia, fase final.
A Dra. Ryssia que tinha sido residente em Clínica Dermatológica
nos Estados Unidos da América, em Nova York para onde convergiam
os pacientes com E.S.P., disse que pouco podia fazer pela paciente,
pois aquela Clínica era nada mais que um depósito de
esclerodérmicos""
Iniciei o tratamento da paciente com E.S.P., no dia 10/09/1976. Para
provocar o desvio imunológico e assim aliviar a paciente apliquei
5ml de sangue em cada deltóide e 5ml em cada glúteo,
de 5 em 5 dias. A paciente já não caminhava há
8 meses e não deglutia sólidos, só líquidos,
devido a estenose do esôfago. Dia 10/10/1976 a paciente saía
andando do Hospital, com alta melhorada assinada pela Dra. Ryssia.
A paciente continuou o tratamento com a dose reduzida para 10ml de
sangue por semana. Em maio de 1977 a paciente A.S.O. foi reinternada
para avaliação, sendo constatada grande melhora em relação
ao dia 10/10/1976 quando teve alta no ano anterior.
Surgiu na ocasião um concurso patrocinado pelo Laboratório
Roche - Hospital Central da Aeronáutica. Redigimos então
um trabalho minuciosamente documentado tanto com exames complementares
como também com fotografias em slides da paciente em setembro
de 1976 e maio de 1977. O concurso cujo tema era originalidade não
publicou o trabalho.
A partir deste caso em que a auto-hemoterapia comprovou ser poderosa
arma terapêutica em doenças auto-imunes passei a aplicá-la
também em doenças alérgicas com excelente resultado.
Apresentarei resumidamente alguns casos que merecem destaque:
. 1980 - M. das G.S. - 28 anos, funcionária da Petrobrás.
Diagnóstico esclerodermia sistêmica progressiva - Decisão
da chefia médica da Petrobrás - aposentar a paciente.
Há 22 anos vem se tratando com a auto-hemoterapia. Está
assintomática e deverá se aposentar em 2005 por tempo
de serviço.
. 1980 - G.S.C (F) 55 anos - Diagnóstico - MIASTENIA GRAVIS
pelo Instituto de Neurologia - Av. Pasteur - RJ. A paciente atualmente,
embora com a doença, vive normalmente, toma ônibus. É
a única paciente que sobrevive entre aquelas diagnosticadas
em 1980 como miastenia gravis, no Instituto de Neurologia.
. 1982 - J da SR (M) 30 anos - diagnóstico - Doença
de CROHN - Tratou-se com a auto-hemoterapia de 10ml semanais durante
1 ano. Até a data atual nenhum sintoma teve da moléstia
que o acometeu em 1982.
. 1990 - M. da RS (M) 22 anos - Doença de CROHN - Curiosamente
a moléstia começou após o paciente ser assaltado,
quando na ocasião fazia o vestibular para Odontologia. Prescrevi
a auto-hemoterapia que foi aplicada pelo próprio pai do paciente.
Até hoje assintomático.
. 1997 - RS (F) 35 anos - Diagnóstico - L.E.S - A auto-hemoterapia
permitiu à paciente ter vida normal, viajando para o exterior
com crianças de rua que ela ensina a bailar.
Em 1978, minha filha que vive na Espanha tinha ovários policísticos,
não ovulava, era estéril. Solicitei ao Dr. Pedro - ginecologista
e obstetra - que fizesse a auto-hemoterapia de 10ml semanais.
Após 6 meses ela engravidou, e repetido o exame com insuflação
tubária, já não haviam mais cistos. O Dr Pedro
fez o parto de meus netos, um casal hoje com 20 e 21 anos respectivamente
e prosseguiu aplicando DIU ao longo de 20 anos a fim de evitar gravidez
indesejada.
. 1990 - M.D.C. - 24 anos (F) - A paciente começou a apresentar
petequias e epistaxis freqüentes. Quando apresentou otorragia
foi encaminhada a um hematologista que diagnosticou como púrpura
trombocitopênica. Durante 6 meses foi tratada com corticoesteróides
em altas doses, até que estes não mais surtiram efeito
e as plaquetas baixaram para 10.000mm3 de sangue. O hematologista
decidiu usar quimioterápico conseguindo a elevação
das plaquetas para níveis quase normais durante 2 meses. Os
quimioterápicos não surtiram mais efeito e a paciente
foi encaminhada para um cirurgião para se submeter à
esplenectomia. A paciente se recusou quando o cirurgião não
garantiu que o fígado assumiria a função do baço.
A paciente me procurou e eu mandei aplicar a auto-hemoterapia. As
plaquetas se normalizaram, a paciente depois teve mais 2 filhos, e
vive vida normal com o seu baço.
. 1982 - M - (F) - A paciente aluga cavalos para turistas em Visconde
de Mauá. Foi picada por uma aranha armadeira em sua perna direita,
que gangrenou, ficando exposta a tíbia. Foi internada na Sta.
Casa de Rezende onde foi decidida a amputação. Já
na mesa de cirurgia a paciente decidiu que não aceitava a amputação
da perna, como preconisava o Instituto Butantã para estes casos.
Assinou termo de responsabilidade e foi liberada. Me procurou e eu
institui a auto-hemoterapia e a lavagem da ferida com solução
de cloreto de magnésio como fazia Pierre Delbet, cirurgião
na guerra de 1914 a 1918. Em 20 dias a paciente estava curada, trabalhando
com sua perna até hoje.
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